segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

DESARMANDO O OUTRO COM AMOR


Tenho uma vizinha há muitos anos que é daquelas pessoas que gosta de implicar por tudo e por nada.

Cresci a ouvir ela e a minha mãe discutirem por causa de coisas pequenas, que se poderiam perfeitamente resolver na base do diálogo. Mas ela, infelizmente, sempre preferiu a pior maneira. E até determinada altura, a minha mãe também errou porque entrava no jogo dela. Até que passou a ignorar as provocações, o que foi sem dúvida melhor para todos nós.

Só que, desde os tempos remotos, quando eu ainda era uma adolescente, e quando a minha mãe ainda se dava ao trabalho de alimentar as suas insanidades, que eu e o filho dela deixamos de nos falar.

Antes disso, nós nos dávamos bem. Conversavamos no portão, ele ia minhas festas de aniversário, essa coisa de vizinhos.

Só que teve uma vez que ele tomou o partido da mãe dele e claro, eu tomei o partido da minha. Não importa mais quem estava com a razão. É passado. Mas cada um tomou as dores da sua mãe, e assim deixamos de nos falar. Nem um cumprimento, nem bom dia, nem boa tarde. Nada.

Bem, passaram-se anos e durante esse tempo eu me tornei a pessoa que sou hoje e as vezes até lamentava que isso tivesse acontecido, afinal, não havia necessidade.

A minha mãe, como disse, deixou de dar trela a tal vizinha, e eu também. Cada vez que a visse, ou ao filho, entrando ou saindo de casa, tanto eu como a minha mãe fingíamos que não tínhamos visto nada.

De realçar, entretanto, que ela até hoje continua, na mínima oportunidade a tentar criar algum tipo de confusão connosco.

E foi isso que aconteceu há poucos dias.

O que aconteceu foi que o nosso motorista estacionou o carro um pouco mais atrás, e esse pouco quer dizer menos de 5 cm e por causa disso a senhora fez uma confusão no meu portão e ainda estacionou o carro no nosso portão, o que nos impediria de sair com o carro caso precisássemos.

O motorista veio avisar e eu fui lá para resolver o assunto. Toquei a campainha e não foi a vizinha que abriu a porta, e sim o filho dela.

Não dá para descrever a atitude agressiva com que ele abriu a porta. Vinha literalmente preparado para a guerra, só que eu não fui tocar a campainha da casa deles para armar um barraco. Como ele queria, ou pelo menos, imaginava.

Comecei sendo extremamente educada:
- Boa tarde, P. Eu queria falar com a tua mãe, é possível?

Ele ficou logo meio sem saber como reagir ao ver a minha atitude, mas respondeu ainda com arrogância:

- Ela saiu. Mas se é por causa do carro, podes falar comigo mesmo.

E aí começou a falar um monte de coisas que não eram chamadas no momento, e eu, muito calmamente disse:

- Eu acho que nós podemos nos entender, conversando. Qual é o problema? É o carro que está ligeiramente mais atrás do que deveria? - fiz uma pausa, e olhei para o nosso carro que de maneira alguma impedia a entrada ou saída do carros deles da garagem. - Tudo bem, eu estou a ver que ficou alguns cm mais atrás do que deveria, peço desculpas, mas tens que entender que o motorista não fez por mal. É natural, ao fazer uma manobra de estacionamento, que se avance ou recue sem querer um pouco mais. Se dissesse que o nosso carro está diante da vossa entrada, tudo bem, mas sinceramente, neste caso, não vejo a razão pela qual a tua mãe se irritou tanto. Ela podia ter estacionado na vaga dela perfeitamente, tanto como podia ter entrado com o carro na vossa garagem. E quando muito, caso não, vocês poderiam ter-nos chamado para resolver o assunto sem a necessidade de criar atritos.

A maneira como eu disse tudo isso deixou-o desconcertado, porque eu fui mais do que amena. Mais do que educada, fui suave. Delicada. E continuei:

- Sabes de uma coisa, esses anos todos, muitos conflitos poderiam ter sido evitados se nós simplesmente conversássemos. Discutir não leva a nada. Para quê partir para a guerra, quando tudo pode ficar bem na paz?

Falei muito mais, dei quase uma palestra, e sabem como terminou? Com ele dizendo que o carro não estava mal estacionado, que não estava a atrapalhar em nada o acesso deles e ainda se prontificou a ir buscar a chave do carro que a mãe dele tinha largado diante do meu portão.

Resumo da ópera? Quando um não quer, dois não brigam. E eu senti-me muito bem comigo mesma por ter tido essa atitude, por ter mantido a calma, e principalmente por ter conseguido fazer com que o meu vizinho baixasse a guarda. Ele rendeu-se completamente, e quando nos despedimos, a sua expressão era outra. Parecia uma outra pessoa. Só não sorriu hehehehehe mas eu sorri, e ainda desejei um Feliz Natal para ele e para toda a família.

Que bom, vocês nem imaginam. Que eu possa agir desta forma sempre diante de situações semelhantes, pois, o stress que a reacção contrária acarreta não compensa, e muito menos se compara a sensação de paz que eu senti naquele dia quando voltei para dentro da minha casa. Senti que tinha feito o certo e que lá em cima, os anjos sorriam satisfeitos.

Beijos meus, com amor.

5 comentários:

Sandra Gonçalves disse...

Que lição maravilhosa amiga...Bjos achocolatados e um ano novo pleno de realizações.

Débora disse...

Obrigada Sandra. Te desejo o mesmo, um Ano Novo MA-RA-VI-LHO-SO :)

Rydi disse...

Amiga, perfeita sua reação :), deu um tapa com luva película.

Cim@r@ S@ntos disse...

Bom dia! Quantas batalhas pelo mundo seriam evitadas se todos tivessem essa atitude diante de uma briga! Hoje é minha primeira visita ao seu lindo blog, primeira de muitas. Estou aqui comentando e ouvindo esse som delicioso do sininho. Parabéns por sua atitude e por nos presentear com um blog tão lindo e "necessário". Beijos, fique com Deus, Cimara

Débora disse...

Cim@r@, obrigadíssima pela sua visita e pelas suas palavras. Irei retribuir a sua visita.
Fique com Deus você tembém.
Angel.

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