sexta-feira, 20 de maio de 2011

CRIANÇAS RACISTAS

Ia eu a subir uma rua íngreme, transito parado ao fim do dia, e naquele arranca/pára dos carros,vinha um grupo de 4 ou 5 rapazinhos entre os 7 e os 12 anos, provavelmente, que me surgiu pela direita passando a frente do carro ao lado do meu no justo momento em que eu ia avançar mais alguns centímetros. Ok! Fiz uma travagem mais brusca, que foi mais aparato do que outra coisa por causa do barulho, afinal estava a passo de caracol, literalmente. Deixei-os passar e foi quando ouvi nitidamente, apesar dos vidros fechados, ar-condicionado e rádio ligado, "BRANCA DE MERDA"!

Ofendida?Não, meus amigos, esse não é o problema, até porque não sou carne, nem peixe, e nem mesmo frango que no caso desse exemplo meio disparatado, ficaria no meio.Sou de origem tanto branca quanto negra,com pitadas de sangue indiano,e sou simplesmente o resultado dessa mistura maravilhosa entre as raças, com muito orgulho de qualquer uma delas.Mas, como eu disse, não que tenha ficado ofendida. Na verdade, não sei expressar o que senti, mas que tinha que fazer alguma coisa, sim tinha. Eu não seria eu, se ficasse calada.

Baixei o vidro e chamei:

- Ei, "puto". Vem cá! - dirigi-me ao pequeno agressor, num tom firme, cara séria, mas não zangada. Talvez por isso, ele e os outros, tenham se aproximado "d'um coro" à espera do que ia sair dali porque era evidente que a minha intenção não era puxar-lhes as orelhas, sequer.

- Gostavas que te chamasse "PRETO DE MERDA"? - perguntei-lhe diretamente, fixando os olhos nos dele, e continuei - Não, né? Então porquê que fizeste isso? Não sabes que é feio ser racista? Ah, e é crime também, sabias?

Nenhum deles tugiu, nem mugiu. Ao contrário, estavam como se estivessem a assistir à uma aula nova. E eu continuei:

- Aprendeste isso aonde? Foi o papá ou a mamã que te ensinaram? Então, diz-lhes que hoje encontraste uma moça na rua a quem tentaste ofender gratuitamente e que ela te explicou que somos todos iguais, e que chamar "branco de merda" ou "preto de merda" é errado, é feio e não vos fica bem. Vocês são o futuro da Nação, têm que aprender as coisas certas para um dia serem homens de bem e ajudarem a construir um mundo melhor, onde as diferenças raciais não sejam mais razão para desentendimentos, nem guerras. Perceberam? - e lá tive que avançar mais um pouco com o carro, sorri, fechei o vidro e deixei-os a pensar.

Pode ser que de nada tenha adiantado, mas estou certa de que no fundo do coração deles essa semente ficou plantada e eu espero sinceramente que todos eles a deixem germinar e crescer. Caso não, fiz o certo, e isso é o que importa.

Pus-me a pensar o resto do caminho que o racismo ainda é muito patente, em pleno século 21, e que muito provavelmente aquelas crianças não têm culpa porque aprendem a ser racistas dentro da própria casa, ou com a vida, já que não duvido nem um pouco que muitas vezes também tenham ouvido chamarem-lhes "preto de merda" a torto e a direito. Acho isso deveras preocupante, afinal, são crianças, são o futuro. Não podemos permitir que as nossas crianças cresçam e se tornem adultos com resquícios de uma mentalidade ultrapassada, injusta e equivocada ... ou teremos que esperar mais um século até que todos compreendam de verdade que todos somos iguais, todos somos filhos do mesmo Deus, com os meus direitos, mesmos deveres? 

Muito mais do que ciências, história, geografia ou matemática, está na hora da educação começar a incluir no seu curriculum aulas que abordem e ensinem conceitos de humanidade, fraternidade e irmandade. Tudo começa assim, com uma semente pequenina, e assim como vários colégios e escolas por aí têm a disciplina de religião e moral, também se devia abordar essas questões mais a fundo, ensinando e incentivando o amor entre todos, a compaixão, o perdão.

Obviamente que não é um trabalho fácil, mas não é por causa disso que devemos desistir e abandonar a ideia. Se eu penso assim e tu também pensas, já somos dois, e se ao passar isto para mais alguém que também concordar seremos três e assim por diante. Não importa se seremos cem contra mil, importa que cada um se concentre em fazer a sua parte, porque para mudar o mundo temos que nos mudar a nós mesmos, e isso começa primeiro dentro do nosso mundo secreto e depois dentro da nossa casa, da nossa família, do nosso círculo de amigos e assim sucessivamente, porque a vida é uma sucessão de acontecimentos em cadeia, se é que alguém ainda não reparou nisso.

Esse episódio aconteceu no início da semana, mas só ontem comentei com um amigo e hoje apeteceu-me dividir com todos. E sabem o que é maravilhoso nisso tudo? É que eu vi nos olhos deles que as poucas palavras que lhes dirigi, mesmo que não as tenham compreendido a fundo, ficaram guardadas em algum lugar das suas mentes fervilhantes e várias perguntas devem ter-lhes assaltado assim que parti, tipo, "Porquê que essa tia não nos ralhou? Não nos chamou nomes, nem nada?" A impressão que tive é que ninguém, nunca, tinha se dado ao trabalho de falar com eles daquela forma. E enfim ... fui-me embora tranquila, em paz com a minha consciência.

Por isso peço-vos, quando vos acontecer, e certamente muitos já terão passado por situações semelhantes, não alimentem essa corrente. Paguem o mal com o bem. O futuro da humanidade agradece :)

Beijos meus na vossa alma :)

4 comentários:

Bia Anderson disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Bia Anderson disse...

Assim como o Descaso, a Maldade, O Abandono o Racismo ainda existe e muitas vezes cultivanos na Criança pelos próprios pais... Eu mesma quando criança já sofre... um vizinho estimulava o filho mais novo a não brincar comigo porque sou negra. E sabe o que eu acho, essa desumanidade não vai acabar enquanto as pessoas não se cetificarem de somos todos Iguais...

Rosalino disse...

Assim de repente surge-me uma pergunta.

Esses rapazes têm de facto a consciência que a raça de cada um é parte integrante do seu ser e da sua personalidade?

Que o sangue que lhe corre nas veias não foi escolhido, antes gerado por dois seres que poderão ter pensamento totalmente contrários um ao outro?

Claro que não.

Acredito fielmente que desde a educação em casa e o meio em que vive, é que lhes incutem a adversidade de raças.

Se lhe perguntasses o que é verdadeiramente a diferenças de raças, por certo ficariam calados.
Reagem por impulsos negativos que lhes comunicaram....

Os animais foram criados assim. Agindo sem pensar.
Os humanos DEVERIAM pensar antes de agir.
Mas nem sempre é assim...

Rosalino

Débora disse...

Nega Biaaaaaa ... puxa, há quanto tempo você não aparece por aqui, mulher! Pensei que não quisesse mais saber de mim :(
É verdade, o racismo é um produto do homem, criado pelo homem e pelo homem, só por ele, pode ser extirpado. Que assim seja um dia.
Beijos querida, adorei a sua visita.

Rosalino, eu também creio que no caso das crianças elas nem saibam ao certo aquilo que estão a dizer, são um reflexo dos pais, dos tios, do que ouvem os mais velhos falarem, do que sofrem na pele também e são apenas crianças. Isso é preocupante porque nós queremos um mundo melhor para os nossos filhos e netos, mais justo, mais harmonioso, mas enquanto NÓS pais, educadores, etc, não nos engajarmos firmemente nessa missão de incutir os valores certos nos nossos filhos, mudando antes o que trazemos de errado dentro de nós, fica difícil ver outra coisa no horizonte. Mas ... como eu sou a esperança hehehehe vou fazendo a minha parte e esperando que cada vez mais, cada um faça a sua :)
Beijinhos.

Angel.

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